"Eu só vi a água por cima da pista quando bateu no pneu da moto. Aí de repente subiu muito rápido e eu tive que escolher entre tentar segurar a moto e Tetê (passageira). O outro que estava na moto, James Viana, sabia nadar e saiu correndo para pedir ajuda. Tetê eu segurei pelos cabelos. Ela gritava dizendo que não sabia nadar e com a dor, mas era o único jeito".
A narrativa acima é do garçom Luís Antônio Batista, de 29 anos, se referindo ao drama que viveu às 3h da madrugada desta segunda-feira na entrada da cidade de de Campo Grande, logo depois de uma chuva de aproximadamente 100 milímetros na região que compreende os municípios de Upanema, Caraúbas e Campo Grande, fazendo se romper o açude da propriedade do doutor Cristiano e, em seguida, outros na propriedade da família Lourenço.
O grande volume de água fez subir pelo menos 10 metros no riacho Ariosa, que passa ao lado de Campo Grande. Como o bueiro na BR-110 não comportou, a água lavou a pista numa extensão 100 metros, com lâmina de pelo menos 1 metro de altura. Pelo menos 30 metros da pista foram totalmente arrancados e outros 50 metros tiveram a metade levados pela água.
Além da moto do garçom Luís Antônio e os passageiros Tetê e James Viana, a correnteza também surpreendeu quase no mesmo momento o agricultor Lindemberg Martins e um vizinho numa moto Titan e o motorista de alternativo Romualdo Vieira de Melo Neto, que dirigia um Pálio prata com três passageiros - uma senhora e duas crianças.
"Ele desceu para observar se dava para passar e a água veio e levou o carro dele. Deu tempo só de tirar as crianças e a senhora do carro", conta Isaac Patrício, secretário de Tributação da Prefeitura de Campo Grande, lembrando que a prefeitura já decretou estado de emergência e pediu ajuda do Governo do Estado para que a Petrobras empreste uma ponte móvel para restabelecer o acesso à cidade, que ficou isolada.
O riacho Ariosa baixou, mas mesmo assim o acesso a Campo Grande para quem está em Janduís, Triunfo Potiguar ou Caraúbas, só é possível por canoa ou a nado num local próximo ao trecho da BR-110, que foi destruído. Para quem está em Mossoró, o único acesso é pelo município de Upanema - a BR-110 é de barro e está com tráfego dificultado devido à buraqueira ocasionada pelas chuvas fortes dos últimos dias.
As duas motos foram encontradas enterradas na areia. O carro não foi encontrado. Acredita-se que esteja dentro do Açude Barra de Pepê, que fica distante 8 quilômetros do local. O Corpo de Bombeiros de Mossoró esteve em Campo Grande ontem realizando diligências junto com os moradores, mas não obteve êxito. "O mais importante é que estamos vivos aqui para contar a história", diz Luís Antônio à reportagem do JORNAL DE FATO.