segunda-feira, julho 19, 2010

Versão de Bruno

Veja a versão do goleiro Bruno para o desaparecimento da ex-amante Eliza Samudio. Ele deu essa versão em uma conversa informal durante o voo que o levou, preso e algemado, para Minas Gerais, na noite de 8 de julho. Bruno fala da relação com a ex-amante, se diz inocente e joga a culpa no amigo de infância Luís Henrique Romão, conhecido como Macarrão. 

É o único relato detalhado que Bruno deu sobre o desaparecimento dela. Depois disso, por orientação do advogado, Bruno se recusou a prestar depoimento à polícia, dizendo que só vai falar em juízo. 

Foi da pista do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, que na noite de 8 de julho decolou em direção a Belo Horizonte, o avião com o goleiro Bruno e o amigo, e também suspeito, Luiz Henrique Romão, o Macarrão. 

O Fantástico mostra imagens do momento em que Bruno e Macarrão eram levados para o aeroporto e a decolagem no avião, onde estavam acompanhados por agentes penitenciários e policiais. 

Às 21h4h, o avião da Polícia Civil de Minas Gerais decolou no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O que foi que Bruno revelou durante aquele voo? O Fantástico teve acesso exclusivo a tudo o que o principal suspeito pelo desaparecimento e morte de Eliza disse naquela viagem. Esse material tem um valor muito especial, porque, depois dessa conversa, Bruno foi instruído pelo advogado a não abrir mais a boca. 

Bruno, algemado, está em uma poltrona longe da de Macarrão. Na primeira vez em que Bruno fala, tenta jogar a culpa no amigo Macarrão: “Não sei o que deu na cabeça dele”. 

Homem: Conversaram muito esta noite? 
Bruno: “Não, ficou em cela separada. Foi difícil, não teve noite”. 

Depois, Bruno conta onde conheceu Eliza. “A história com essa Eliza começou lá na casa do Paulo Victor. Hoje, é o segundo goleiro do Flamengo. Começou lá na casa dele. Estava ela e mais quatro garotas”. 

Procurado pelo Fantástico, Paulo Victor, por telefone, disse que não lembra dessa festa, nem de Eliza. 

Em seguida, Bruno tenta desqualificar a ex-amante: “conheci numa ‘suruba’, numa orgia, conheci essa garota. Estava ela e mais quatro amigas, eu com meus amigos. Nesse dia, aconteceu. Ela ficou comigo e com vários amigos também. Mas ela fala que o filho é meu”. 

Homem: Foi nesse dia que ela engravidou? 
Bruno: “Só fiquei com ela essa vez, coisa de 20 minutos”. 

Bruno lembra e acha graça. Mas essa história é contestada pela versão de Eliza. Na denúncia de agressão que registrou contra o goleiro, em outubro do ano passado, na Delegacia da Mulher no Rio, Eliza disse que teve relações com Bruno por três vezes. 

Bruno diz que não acredita que a ex-amante tenha planejado fazer sexo com ele para engravidar. “Não sei, acho que não. Acho que aconteceu”, diz o goleiro. 

O jogador diz que, na época em que ficou com Eliza, não estava mais casado com Dayanne Souza, com quem tem duas filhas: “Separado, não no papel, tanto que eu morava numa casa e ela já em outra. Estava separado”. 

Mas explica por que ainda mantinha contato com a ex-mulher: “O fato de ela ter vindo pro Rio de Janeiro, minha ex-esposa, foi para eu poder ficar perto das minhas filhas, principalmente por causa da B. que é agarrada comigo. A mais velha é agarrada comigo, muito agarrada”. 

Bruno procura se apresentar como pai zeloso, diz que reconheceria o filho de Eliza, se ficasse provado que era dele: “É isso que eu estava tentando fazer, eu estava tentando, igual eu falei com ela: 'Eliza, onde come um, comem dois. Onde comem dois, comem quatro'. Se o filho é meu... Eu quero mais que... Para mim, estava tranqüilo”. 

Essa versão é bem diferente da que Eliza registrou na Delegacia da Mulher no Rio de Janeiro. Bruno teria proposto um acordo financeiro para ela realizar um aborto. No dia em fez a denúncia, Eliza coletou uma amostra de urina. Só oito meses depois, quando ela desapareceu, o material foi examinado pelo Instituto Médico Legal. O resultado comprovou que ela tinha ingerido um abortivo. Um novo teste vai revelar que substância era essa. 

Eliza contou em depoimento que, em 7 de outubro, Bruno pegou uma arma e colocou na cabeça dela, uma pistola, saindo com o carro em direção à casa onde ele mora, na Barra da Tijuca. E que chegando à casa dele, deram uma bebida de gosto muito forte. 

“Ele pegou, começou a me bater, falou assim: ‘Você não queria que aparecesse, foi no jornal, rindo, falando que você ficou com isto com aquilo’, e me deu dois bofetões enormes na cara. Ele pegou e ficou rodando e falou: ‘Não sei se eu te mato, não sei o que eu faço’. Aí, eu falei: ‘Se você me matar é pior, porque as pessoas vão atrás de você’. Ele falou: ‘Mas se eu te matar e te jogar em qualquer lugar eles não vão descobrir que fui eu’”, disse Eliza em entrevista ao jornal Extra. 

Segundo Bruno, essa versão é falsa. Ele, sim, é que teria vítima de uma armação de Eliza. “Porque assim, você vendo os anos de lá atrás, lá no começo, a pessoa [Eliza] chegou falando que eu sequestrei, tentativa de aborto, não sei o que mais. De repente, ela deixa uma carta com a amiga falando que se acontecesse qualquer coisa com ela, a culpa seria minha. Então, quer dizer, faz de mim o principal suspeito”, declara o goleiro. 

Quando fala em carta, Bruno se refere à mensagem de celular que Eliza mandou para a advogada Anne Faraco. “Ela me mandou uma mensagem no dia 11 de maio dizendo que já estava no Rio de Janeiro, dizendo: ‘Estou no mesmo hotel que fiquei aquela vez, se acontecer algo, já sabe quem foi’”, conta. 

Bruno diz que, na época, mandou Macarrão procurar Eliza para negociar um acordo: “Eu assim tinha conversado com ela através dele [Macarrão], porque eu não conversava mais com ela. Não conversava mais com ela, não tinha quase contato nenhum com ela. Através dele eu fazia meus negócios”. 

“O negócio é o seguinte, vamos fazer o DNA, você prova que o filho é meu e eu vou assumir minha parcela de pai, que eu já tenho duas. Onde comem uma, duas, comem três, quatro. Eu tenho que assumir, se ele é meu filho, eu quero cuidar”, declara. 

Mas um documento mostra que Bruno não estava disposto a pagar pensão à Eliza. 

Em resposta ao pedido de pensão alimentícia feito pela ex-amante em agosto passado, no Fórum do Rio de Janeiro, mais uma vez, Bruno desqualifica Eliza dizendo que ela costuma se envolver com atletas de futebol no intuito de obter vantagem financeira e negou que o filho que Eliza estava esperando fosse dele. Motivo pelo qual não havia que se falar em fixação de alimentos em favor da autora. 

Depois que o bebê nasceu ele propôs um acordo financeiro: “A gente estava negociando a pensão. Eu tinha feito um acordo com ela que eu ia pagar para ela R$ 3,5 mil, mais o aluguel do apartamento. Daria um total de R$ 6 mil. Para mim, não ia fazer falta. Ia estar cuidando do meu filho. Deixei ele (Macarrão) conversar com ela. Esse era o acordo que eu tinha com ela”. 

Na versão do goleiro, o problema já estava resolvido. “Meu advogado e o advogado dela já estavam negociando, tinha sido conversado já”. 

Mas as mensagens que Eliza trocava com amigos por computador indicam que o acordo financeiro não parecia estar tão bem assim. Na internet, ela se identificava como ‘Fácil é julgar’. 

- Fácil é julgar (Eliza): todo mês, ele mandava o cara que trabalha para ele depositar uma miséria. Esse mês está enrolando. 
- Fácil é julgar (Eliza): o acordo para ele depositar foi de eu ficar quieta, falar nada para a imprensa. 
- Fácil é julgar (Eliza): tenho que pagar aluguel, comprar as coisas para o meu filho e ele nada. 
- Fácil é julgar (Eliza): e outra, tu sabe que plano de saúde, se não paga até 10 dias, cancela. 
- Fácil é julgar (Eliza): criança sem plano é complicado. 

Bruno conta uma história que teria ocorrido depois que Eliza sumiu. Em um encontro com Macarrão, o amigo teria dito que deu dinheiro a Eliza e que ficou com o bebê: “Quando começou toda essa história, eu cheguei para ele [Macarrão] e perguntei: ‘Que história é essa? O que está acontecendo?’”. 

“Ele (Macarrão) disse: ‘Não, eu dei um dinheiro para ela [Eliza] e ela foi embora e deixou a criança. Foi quando eu peguei a criança. Perguntei: ‘O que está acontecendo?’. Ele disse: ‘Ela foi embora, deixou a criança contigo e é para você cuidar que ela foi resolver uns problemas’. Até então, fiquei com medo de ela estar armando mais uma para mim, que ela já tinha armado no Rio de Janeiro esse negócio, esse negócio que eu sequestrei, que eu dei tentativa de aborto”. 

Bruno insiste: o abandono do filho seria parte de um golpe aplicado por Eliza: “Pensei que era apenas mais uma armação. Eles falaram pra mim que ela tinha pegado o dinheiro, deixado o filho comigo e que ela ia voltar daqui uma ou duas semanas. Eu fiquei assim: ‘Vou ficar quieto, eu não vou entrar nessa não, porque, sei lá, depois acontece alguma coisa, vão falar que eu sequestrei essa criança’. Porque eu não procurei ninguém. Eu tive medo. Realmente, eu tinha muito medo dela. Então, assim, foi passando dia a dia, eu tinha que me apresentar no Flamengo. Para não deixar a criança sozinha e não sair com a criança do sítio, foi onde eu falei: ‘Dayanne, preciso de você. Aconteceu isso, isso e isso, preciso que você tome conta dessa criança para mim que eu estou indo para o Rio de Janeiro’”. 

De acordo com Bruno, Dayanne sabia que o filho era de Eliza: “Sabia até porque eu estava separado dela. Sabia já da criança, da existência da criança. Ela falou assim: ‘Cadê a mãe desse menino?' Começou a perguntar. Falei: ‘Não sei. Passaram para mim que ela foi resolver uns problemas, deram um dinheiro para ela, e a criança está comigo’”. 

“Peguei ela, deixei a criança com ela e segui ao Rio de Janeiro junto com o time 100%”, conta o goleiro. 

O 100% é o time de futebol patrocinado por Bruno, dirigido por Macarrão, e que ostenta, no uniforme, o símbolo da morte. “Viajei com o 100% para o Rio de Janeiro e deixei a criança lá. Depois que passou um tempo, que eu me apresentei no Flamengo, toda essa história começou”, diz. 

Dayanne foi presa em flagrante por subtração de incapaz, quando a polícia encontrou o bebê escondido em um bairro próximo ao sítio. 

No avião, o jogador se apresenta como vítima: “Me ligaram, que tinham sequestrado meu filho, um negócio. Começou essa história. Falei isso: ‘está vendo? Sobrou pra mim de novo’. Fiquei preocupado comigo. Eu não me manifestei. Foi passando, passando, passando, até chegar essa história que eu estou vendo agora, que eu estou assustado com tudo. Com tudo que está acontecendo”. 

Bruno se preocupa com a reputação e com o dinheiro: “Eu, com contrato... Mudar minha vida, Europa, possível, grandes chances de jogar na seleção em 2014”. 

Homem: Você deve ter um patrimônio bom? 
Bruno: “Mais ou menos, que a família toda depende de mim”. 

Homem: Sua família toda depende de você? 
Bruno: Todo mundo depende de mim. O carro que minha mãe anda eu que pago. As coisas que eu tenho, o sítio, a manutenção, eu que mantenho o sítio. Casa da minha mãe eu que pago tudo. Casa da minha ex-sogra eu que pago. 

Homem: Você fez uma poupança boa? 
Bruno: O dinheiro que eu ganhei, eu investi nos patrimônios. 

O dinheiro foi um dos motivos que aproximaram Bruno de Macarrão. O goleiro diz que precisava de alguém para tratar das contas dele, administrar os bens, cuidar da vida do craque. A confiança foi conquistada ao longo de anos. “Amizade de quase 18 anos. Foi criado comigo, de infância”, diz Bruno. 

“Existe um projeto Toriba. Existia esse projeto, existia um time de futebol, onde ia disputar o Campeonato Mineiro. Eu cheguei como treinador de goleiro, não era nem goleiro, tinha acabado de sair do Cruzeiro, comecei a dar uma força para o pessoal. Eu conheci ele. E a gente cresceu junto”, lembra. 

“É o cara que passou a trabalhar comigo um tempo. Eu disse: 'O negócio é o seguinte: larga o que você está fazendo'. Ele trabalhava no Ceasa, era conferente. Eu disse: 'larga isso aí, vem trabalhar comigo, eu pago seu salário'”. 

A partir desse ponto a vida de Macarrão melhorou: “Começou a trabalhar. Foi indo, foi passando, o tempo, começou a ter contato. 'O negócio é o seguinte. A partir de hoje, você vai ganhar um pouco mais, então você vai começar a ter acesso a banco, ter acesso a minha família, ter acesso a todas as pessoas, a toda minha vida’. Ele se preocupava em sempre me deixar jogar futebol, mais nada. Minha cabeça toda voltada pra jogar bola. Ele cuidava do resto. Conta de banco... Sempre foi assim”, afirma Bruno. 

A família de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, confirma. “Não tem como não falar que era o braço direito de Bruno, porque, se você me chama de ‘meu irmão’, então, você vai resolver para mim. É você que resolve. Era a pessoa que era qualificada por Bruno. Chama-se Luiz Henrique”, reevla Cássio Romão, pai de Macarrão. 

Mas, no voo para a cadeia, Bruno demonstra de novo que já não tem tanta confiança nesse tal irmão: “Confio no meu irmão, criado comigo, confio nele, mas essas últimas notícias me deixaram...”. 

A confiança teria sido abalada pelas notícias sobre o sumiço e assassinato de Eliza Samudio e pelo depoimento do menor, apreendido na casa de Bruno e que confessou o envolvimento no crime. 

O adolescente disse que Macarrão ajudou no assassinato, ao amarrar as mãos de Eliza para frente e que viu Macarrão perguntando a Bola, por telefone, se ele teria dado fim ao corpo de Eliza. Bola teria respondido que tinha uma espécie de buraco em sua casa em que ele poderia colocar o corpo da vítima e concretar. “Me deixou abismado. Fiquei assustado com toda situação, não tem como acreditar mais”, disse Bruno. 

Os dois são suspeitos de participação no mesmo crime, mas, para Bruno, a situação dele perante a Justiça é bem diferente da de Macarrão. Perguntado sobre como julgaria a si próprio em um tribunal de júri, ele respondeu: “Não sei qual é o inquérito. Eu acho que sairia inocente. Eu acho, porque eu tenho a consciência tranqüila, porque eu não fiz nada, que eu não tenho nada a ver com essa história”. 

Homem: Você não acha que o senhor foi pelo menos omisso? 
Bruno: Não. Até o momento meu com a criança, ali eu estou envolvido, com a criança. Agora, com as outras coisas que saíram essa semana, não estou nem acreditando mais no que ele tem para falar. 

Homem: O que ele te falou? 
Bruno: O que ele me passou foi isso: que ele deu dinheiro pra ela e ela pegou e viajou. Só que estão surgindo uns acontecimentos, não está me dizendo isso. Está dizendo isso que vocês todos estão sabendo. 

Homem: E o sangue dela na sua Land Rover? 
Bruno: Ele está com meu carro, dirige meu carro. Eu não viajo com meu carro. Ele tem acesso livre, eu viajo com meu carro de vez em quando. O carro é mais dele do que meu. 

A perícia confirmou que o sangue no carro de Bruno é de Eliza Samudio e também havia sangue de um homem no veículo. Bruno se negou a fornecer material para exame de DNA. 

O primo dele, Sérgio Rosa Sales, foi levado ao sítio do jogador e mostrou para a polícia onde Eliza Samudio teria ficado em cativeiro. A perícia encontrou marcas de sangue em um colchão e fios de cabelo. 

O adolescente disse que Eliza ficou em um quarto só para ela e que, no período em que ela ficou na casa, Bruno esteve lá. 

Sérgio afirmou em um dos depoimentos que, depois do assassinato, já no sítio, Bruno estava tranquilo, começou a beber com ele e disse: 'acabou esse tormento'. 

Demonstrando frieza na viagem para a penitenciária, o goleiro que se declara inocente joga a responsabilidade nas costas do homem que tatuou o nome dele: ‘Bruno e Maka: a amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir. Amor verdadeiro’. 

“Hoje, com todos os fatos que têm, é difícil acreditar nele. Pelo que estou vendo, tudo em volta, tudo que está acontecendo, estou chocado”, declarou Bruno. 

Até agora, Luiz Henrique Romão, o Macarrão, preferiu ficar calado. Ele disse que só vai falar diante do juiz.

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