sexta-feira, abril 08, 2011

Rio de Janeiro: Porteiro e Estudantes falam sobre massacre

Porteiro ajudou no resgate em escola

O porteiro Ivo Rodrigues dos Santos, de 54 anos, foi um dos primeiros a chegar à escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, após os disparos feitos por Wellington Menezes de Oliveira. Ele mora a uma quadra do colégio e foi chamado pela sobrinha, que chegou em casa chorando.
"O que eu vi foi uma tragédia que nunca mais vai sair da minha cabeça. Na sala de aula do primeiro andar as crianças estavam amontoadas, todas mortas, cheias de sangue. As meninas estavam separadas dos meninos, mas todas juntas, perto da parede", diz o porteiro.
Ele diz ter socorrido um menino, que continua internado. Ao pegar o garoto no colo e levá-lo para ambulância, o porteiro contou que o estudante lhe afirmou que o atirador selecionou as vítimas.

'Ele foi escolhido para morrer', conta porteiro
"Ele só disse que o Wellington entrou na sala, olhou para o primeiro da fila e disse: 'Você não, você eu não vou matar, pode ir embora. Ele era o segundo da fila e, na hora que o cara atirou contra ele, levantou o braço direito para proteger o rosto. Por isso o tiro atingiu o braço e ele não morreu. Ele disse que foi escolhido para morrer", diz Santos.

Depois, conta o porteiro, o menino levou outro tiro no peito. "Pelo que as crianças contaram, parecia que o cara estava brincando, se divertindo com a situação.

 'Pretendia pedir ela em namoro', afirma estudante de 14 anos

Um estudante de 14 anos diz que uma das vítimas do massacre na escola Tasso da Silveira, em Realengo, Laryssa Silva Martins, morreu porque voltou para a sala de aula para tentar buscar a mochila.


"Vi a Laryssa sair correndo da sala de aula dela, onde o atirador estava. As meninas chamaram ela, mas quando ela chegou na porta da sala voltou. Foi quando o garoto deu um tiro na cabeça dela", desabafou o menino, chorando. "Ela morreu porque quis buscar o material".


"Eu vi o garoto entrando armado, ele ainda sorriu para mim. Percebi o volume da arma nas costas, mas mesmo assim subi para a sala de aula, no primeiro andar, porque o professor estava chamando. Foi quando começaram os tiros", disse.


O estudante se diz muito triste porque na véspera da tragédia, quarta-feira (6), ele havia "discutido" com Laryssa. "Brigamos feio, mas eu gostava dela. Pretendia pedir ela em namoro ontem (quinta-feira, dia do tiroteio). Ela iria aceitar, porque também gostava de mim", afirmou.



O estudante Mateus Moraes, de 13 anos, contou que as meninas eram o alvo do atirador o ataque à Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, na Zona Oeste do Rio. "Ele matava as meninas com tiros na cabeça. Nas meninas, ele atirava para matar. Nos meninos, os tiros eram só para machucar, nos braços ou nas pernas", disse o aluno, acrescentando que o atirador saiu da sala cinco vezes para recarregar as arma, e a ação durou cerca de cinco minutos.


O menino disse ainda que chegou a conversar com o atirador durante o ataque. "Estava no meio da aula de português quando ele apareceu. Só pedi a Deus para ele não me matar. E ele falou para eu ficar tranquilo que eu não ia morrer. Fiquei orando e pedindo a Deus para me guardar", disse o aluno do 7º ano. 


Mateus não sabe se conseguirá voltar à escola depois de sobreviver ao ataque. "Não sei se vou voltar aqui por causa das lembranças", disse o aluno, desolado.   




A estudante Jade Ramos de Araújo, de 12 anos, disse que estava no meio de uma prova de Ciências quando começou a ouvir os disparos. "Todo mundo achou que era tiro, mas as professoras tentaram tranquilizar a turma", contou a menina.

Segundo ela, as crianças gritavam muito, mas as professoras pediam para fazerem silêncio. "Elas diziam: 'ele vai ficar nervoso, vai querer matar todo mundo'". Ao entrar nas salas, ainda segundo a menina, o atirador disse para que as crianças ficassem de frente para a parede. "Ele pedia para virarem de costas para a parede e falava que ia matar todo mundo. Foi nessa hora que alguns conseguiram fugir", relatou.

"Vi muito sangue nas escadas, crianças desmaiadas. Quando a gente subia tinha um bando de gente amontoada no chão. Os alunos foram pisoteados durante a fuga, as crianças iam fugindo subindo as escadas e algumas acabaram desmaiando", disse.

A menina contou ainda que contou com a ajuda do irmão, de 17 anos, para sair da escola. "Meu irmão veio me buscar, ele procurou de porta em porta. O atirador ainda estava vivo quando ele entrou e conseguiu me tirar daqui", falou. Jade voltou à escola na tarde desta quinta (7) para tentar recuperar seus pertences e, principalmente, tentar falar com os policiais que a salvaram. "Vim para agradecer aos policiais porque ele ia matar todo mundo", completou.

Já o motorista de ônibus Elias Campista da Silva, disse que o sobrinho relatou que conseguiu fugir do atirador no momento em que ele recarregava uma de suas armas. "Ele correu na hora, escorregou numa poça de sangue, caiu e se machucou enquanto tentava fugir", contou o tio de Patrick da Silva Figueiredo, de 14 anos.
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Vai ser difícil voltar a estudar aqui', diz aluno
Segundo Elias, foi Patrick quem ajudou a menina Renata Lima Rocha, 13, a escapar do atirador. A menina foi baleada nos rins durante o ataque e está internada Albert Schweitzer, que fica no mesmo bairro o colégio.
“Foram pelo menos dez minutos de tiro sem parar. O professor de geografia mandou todo mundo deitar no chão e saiu da sala trancando a turma pelo lado de fora, pois era o único jeito de trancar a gente lá. Quando eu saí, eu vi cena de guerra, de terror. Vai ser difícil voltar a estudar aqui. Não é nem pelo atentado, pelos amigos que perdi”, relata Riccele Ponce, de 15 anos, que perdeu três amigos.

'Pensei que fosse morrer'
O estudante Marcus Vinicius estava no último andar da escola quando ouviu muitos tiros. "A professora mandou todo mundo abaixar e trancou a porta. Foi terrível. Fiquei muito nervoso. Pensei que fosse morrer", diz o menino, de 10 anos. Outra aluna também lembrou dos momentos de terror na unidade. A menina de 12 anos disse que viu o atirador entrar na escola. Ela estava dentro da sala de aula quando ele abriu fogo contra os alunos.



“Ele começou a atirar. Eu me agachei e, quando vi, minha amiga estava atingida. Ele matou minha amiga dentro da minha sala”, conta ela, que afirma que estava no pátio na hora em que o atirador entrou na escola.

“Ele estava bem vestido. Subiu para o segundo andar e eu ouvi dois tiros. Depois, todos os alunos subiram para suas salas. Depois ele subiu para o terceiro andar, onde é a minha sala, entrou e começou a atirar”, completou.
Ainda de acordo com os relatos, professores e alunos colocaram armários e cadeiras atrás das portas das salas para evitar a entrada do atirador.



G1

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