quinta-feira, março 18, 2010

Contra Remo, Ganso lembra trajetória e lições do 1º mestre

O piso é um pouco mais castigado do que há 13 anos. A trave está enferrujada, as redes quase soltas, e não é raro ver se levantar um dos tacos da quadra do ginásio da Tuna Luso-PA, clube onde o meia Paulo Henrique Lima, do Santos, começou a dar os primeiros passos no futebol. O velho amigo continua lá, como quando o meia, hoje conhecido como Ganso, ensaiava os primeiros passes. Com o rosto marcado pelo tempo, Carlos Alberto Carvalho, o Capitão, ainda é técnico no clube da capital paraense. Mas tem a sensação de que a sua contribuição ao futebol já foi feita.


O Henrique sempre foi diferenciado e obediente taticamente. E a mãe dele, dona Creuza, é uma heroína. Sempre digo que ela é a rainha, o Júlio (pai do atleta) é o rei, e ele é meu príncipe - contou o primeiro treinador de Ganso.

O caminho entre Ananindeua e a fama no Santos, que às 21h (horário de Brasília) desta quinta-feira enfrenta o Remo-PA, no Mangueirão, em Belém, pela segunda rodada da Copa do Brasil, não foi fácil. Embora não passasse por dificuldades financeiras, graças a uma família bem estruturada, Paulo Henrique rodou pelos clubes de Belém. Até a chegada à Vila Belmiro, em 2005, foram treinos no futebol de salão, competições escolares, jogos pelo Paysandu e Remo no futebol de campo. Mesmo rodando muito, o talento que hoje em dia encanta até torcedores rivais já aparecia na época.

Ele era magrelinho, mas sempre teve aquele pé esquerdo bom. Quando começou comigo, aos 7 anos, eu colocava uma fita e marcava uma falta sempre que ele não chutava com a perna direita. Insistia para ele bater com a direita, para tentar ser o mais completo possível. E ele ficava doido com isso. Chutava e fazia gols com a direita só para me provocar, para provar que não usava o pé só para subir no ônibus. Quando o vejo dando passe com o pé direito fico feliz. Ajudei de alguma forma - disse Capitão.

O trabalho do antigo treinador nunca foi esquecido por Ganso. Nas férias, quando visita Belém, faz questão de encontrar o velho amigo. Leva camisas do Santos, abraços afetuosos e a saudade dos tempos em que sua mãe lhe levava água nos treinos ou o obrigava a beber uma vitamina com castanha de caju, amendoim e guaraná, entre outras bombas calóricas, porque não era bom de garfo.

Ele sempre assiste aos jogos do Henrique, e mamãe liga para saber a sua opinião até hoje. Numa das vezes, ela soube pela esposa do Capitão que ele chegava tarde em casa porque ficava procurando um lugar para assistir ao Santos. O Henrique soube e decidiu fazer uma surpresa: comprou uma televisão nova e TV a cabo - comentou Paula Lima, irmã de Ganso.

Em paralelo aos treinos na Tuna, o meia santista ainda participava dos torneios escolares. Ganhou vários títulos e prêmios pelo talento nas quadras. No campo, jogou pelo Paysandu e pelo rival Remo como convidado. E teve um empurrãozinho de um ídolo santitsa, nascido no Pará, para chegar ao Peixe.

Ele jogava aqui na escola e acabava com os jogos. O time era ruim demais, só ele era bom. Como eu trabalhava na escola do Giovanni, um dia conversei com a irmã dele e pedi um teste para o Henrique no Santos. Enviei um currículo normal dele ao Giovanni, que tinha acabado de voltar para o Brasil. E o Paulo Henrique foi embora - relembrou Márcio Guedes, ex-professor de Educação Física de Ganso e que conhecia o veterano meia santista por trabalhar na sua escola, em Belém.

Até chegar em Santos, em 2005, Ganso não havia tido contato com Giovanni. Eles só se conheceram no CT Rei Pelé. Mas a família é agradecida até hoje ao Messias pela ajuda.

Nesta quinta, Guedes estará no Mangueirão para ver o ex-aluno famoso. Assim, como os amigos Rodrigo Bacellar (que sofre com as gozações por ser corintiano), Vitor Queiroz e Augusto Santos (que ainda tentam se destacar no futebol), e Matheus Mangabeira e Rudd Anais (desertores da bola e estudantes de engenharia e educação física, respectivamente). Só Capitão faltará à primeira exibição do pupilo como profissional em Belém. É que ele ganhou do ex-aluno uma passagem para São Paulo, onde assistirá ao jogo do Peixe contra o Ituano, no Pacaembu, no domingo. O professor viaja nesta quinta.

Fotos da infância

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