quarta-feira, junho 16, 2010

Insegurança toma conta do interior.

O tempo de dormir de porta aberta, de contar dinheiro no meio da rua, de andar à noite sem medo da violência, passou nas cidades de São Pedro e São Paulo do Potengi, respectivamente. Isso porque o consumo de drogas e a falta de policiamento nas ruas provocaram um aumento na insegurança. Hoje, é difícil encontrar um morador que não tenha sido vítima de assaltos ou furtos.


“Meu marido nunca havia sido assaltado. Foi há dois meses, aos 67 anos. Desde lá, vive nervoso e se internando no hospital por estresse. Nunca foi acostumado com a insegurança”, contou a comerciante Maria Lindóia de Moura, 67, mulher de Raimundo da Cunha Calisto, também comerciante. Raimundo foi assaltado na porta de casa, no Centro de São Pedro por dois homens armados. “Tudo aconteceu às 6h30 da manhã. Havia acabado de fechar o portão de casa quando um veio por trás e segurou meus braços. O outro colocou o revólver na minha cabeça e me mandou dar o dinheiro”, narrou a vítima, que teve roubado R$ 600.


O mercadinho onde Raimundo e Lindóia trabalham vendendo feijão verde, também já foi “vítima” da ação dos bandidos. “Há dois meses, arrombaram a porta dos fundos do mercadinho e levaram um gravador que eu tenho. Não é muito, mas nos deixa assustado”, afirmou Robson Gomes da Silva, o responsável pelo ponto comercial.

Para a dona de casa Zuleide da Silva Oliveira, o tempo de tranquilidade na cidade já passou. “Antes a gente dormia aqui de porta aberta, ficava até tarde conversando na rua. Agora, ninguém mais tem coragem de fazer isso. Se faz, é assaltado ou vítima até de algo pior. A droga está a solta aqui”, afirmou a dona de casa, que cresceu em São Pedro e viu a cidade mudar nos últimos anos. “Os mais novos saíram, se mudaram para as cidades maiores, em busca de trabalho ou de estudo. A cidade agora tem muita gente de mais idade. E como o policiamento não mudou nada nos últimos tempos, a bandidagem tomou conta”, explicou a moradora. Em São Paulo do Potengi, a situação não é diferente. Lá, inclusive, a insegurança se instalou antes. “Não foi do ano passado para cá. Já faz mais tempo que é inseguro andar na periferia. Tem muito assalto, roubo, consumo de drogas”, afirmou a comerciante Janaína de Araújo, 19.

Amordaçada

O andar é lento e arrastado. Também pudera, aos 77 anos, a aposentada Ana Serafim de Lima ainda se recupera dos ferimentos sofridos na perna, no braço e no rosto, durante a madrugada da segunda-feira 7. Moradora de Fieis, em São Pedro, a idosa teve a casa invadida por quatro homens ainda não identificados, foi amarrada, amordaçada e viu as economias que fazia para viajar para Juazeiro/CE, serem levadas pela quadrilha.

A história do assalto que sofreu, o primeiro em São Pedro, ainda está clara na memória de Dona Ana do finado Zé Serafim, como é conhecida. Ela conta que acordou às 2h da madrugada, sentindo um forte peso em cima do corpo. Era um dos assaltantes, mandando ela ficar calada. “Não entendi o que era aquilo, aí falei logo: ‘valei-me minha Nossa Senhora’, foi quando ele tapou minha boca com uma toalha de chão”, contou Dona Ana.

Depois de amordaçada, a idosa foi amarrada, enquanto o homem que a havia abordado e os outros três que o acompanhavam, reviravam a casa. No entanto, na humilde residência, encontraram apenas um faqueiro novo e R$ 480, dinheiro guardado há algum tempo por Dona Ana. “Esse faqueiro custou R$ 25 e estava guardando para quando algum filho meu me visitasse. Queria ter algo melhor para colocar na mesa. O dinheiro eu guardava para fazer uma viagem a Juazeiro para assistir à missa de Padre Cícero agora no dia 20 de julho. Queria cumprir uma promessa por uma graça alcançada”, contou.

Polícia já tem um suspeito

Idosa e solitária, Dona Ana representa o perfil de vítima preferido pelos assaltantes que estão agindo em São Pedro e cidades próximas, segundo o destacamento de PM local. “Neste mês, foram registrados cinco assaltos em residências. Quatro em sítios e um na área urbana, que foi o de Dona Ana. Nós já temos uma ideia de quem esteja realizando esse tipo de crime na cidade, pois os assaltos escolhem um mesmo tipo de vítima. Pessoas de idade elevada, solitárias ou casal que mora em casas com pouco movimento”, contou o sargento José Custódio, comandante do Destacamento de PM de São Pedro.

O principal suspeito de estar cometendo esses assaltos na região de São Pedro, São Paulo do Potengi e cidades vizinhas é o homem conhecido por “Jacaré”. Preso em 1997, também pelo sargento Custódio, ele cumpriu parte da pena a qual foi condenado a 12 anos na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, mas em novembro de 2009 foi para o regime semiaberto e não voltou mais para a cadeia. A falta de queixas prestadas pela população, também dificulta o trabalho de investigação. “Queremos que as pessoas prestem queixa, nem que isso sirva apenas como estatística. Se tivermos como provar que aumentou a violência aqui, poderemos conseguir um efetivo maior”, disse Custódio.

A falta de um efetivo policial suficiente também é apontada pelo delegado regional Petrus Antonius como um dos principais motivos para o aumento da violência, tanto na região urbana, quanto na região rural. “Aumentaram os números de homicídios, tráfico de drogas e assaltos. Por sinal, são esses três os principais motivos de prisão que estamos realizando”, afirmou o delegado

Em São Pedro, o destacamento tem apenas dois policiais: Custódio e um cabo, que fica de plantão. “Além disso, para dar uma ajuda ao delegado regional, trabalho dentro da delegacia, atendendo a população e registrando as queixas. Quando temos alguma ocorrência, chamamos os destacamentos ou os pelotões vizinhos”, disse o sargento.

Não é só a PM que carece de efetivo na região. Como o sargento Custódio disse, os poucos PMs que dão serviço na área acabam deslocados para cumprir também o serviço de policiais civis. “Aqui na delegacia regional temos apenas três agentes. Esperamos que com o novo concurso da Polícia Civil esse efetivo aumente, para que possamos ter, pelo menos, um agente, um escrivão e um delegado por cidade”, afirmou o delegado Petrus Antonius, responsável por 12 delegacias.

Dessas cidades que é responsável, Petrus Antonius elege São Tomé, Lajes e São Pedro como as que a violência aumentou mais nos últimos tempos. “O interior está pior que a capital, porque os bandidos estão migrando para as cidades menores. É mais fácil para eles ‘trabalharem’, porque tem menos policiamento”, contou o delegado. Sobre a situação, o comando-geral da PM acredita que deve haver uma melhora, visto que algumas mudanças no policiamento ocorreram. “Houve a prisão de dois PMs de São Paulo do Potengi que eram envolvidos com o crime organizado. Por isso, a tendência agora é que a situação melhore”, afirmou Araújo Silva.
Tribuna do Norte

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