domingo, março 20, 2011

Biólogo potiguar volta do Japão uma semana após tragédia


Por Alex Costa // alexcosta.rn@dabr.com.br // Especial para o Diário de Natal

Árvores que pareciam não estar fixas no solo, vidros que pareciam papéis abanando, pessoas que mal conseguiam manter-se em pé. Foi essa a visão que teve o biólogo potiguar Paulo de Tasso de Oliveira, 26, estudante de japonês no Instituto Estrangeiro de Língua Japonesa, enquanto acontecia o terremoto que devastou o Japão no dia 11 de março. "Eu estava na sala de aula no momento do abalo sísmico. Os professores agiram de forma tranquila e tentavam acalmar os alunos, todos de outros países e que entraram em desespero", contou o potiguar. 

Este relato foi dado pelo jovem, ontem pela manhã, no momento da sua chegada e recepção ao Aeroporto Internacional Augusto Severo, onde os seus pais e familiares o receberam com muitos beijos e abraços, compondo um quadro de muita emoção. "Graças a Deus que trouxe o meu filho de volta com vida", comentou o pai, o tenente-coronel da Polícia Militar, Saulo de Tasso. 

Segundo o potiguar, o terremoto atingiu o local onde ele estava com a intensidade 7 na escala Richter, o que parecia ser normal ao princípio. Porém a duração de mais de três minutos com a forte trepidação preocupou bastante os alunos estrangeiros e os próprios professores, que começaram a perceber o real impacto do abalo. "A escola era toda preparada. Nada cedeu na estrutura contruída recentemente, porém muitas edificações que rodeavam o local cediam, aumentando ainda mais o desespero das pessoas. Eu fiquei calmo todo o tempo", disse Paulo. O pós-terremoto trouxe réplicas constantes e o estudante procurou todo tempo ajudar os colegas de classe, trazendo agasalhos que estavam no interior da escola, pois o exterior estava bastante frio. "Os mais calmos se uniram e se prontificaram a ajudar os que entraram em pânico", completou. 

Desde a data do terremoto, Paulo esteve durante todo o tempo dentro do seu quarto "todo revirado", que ficava nas instalações próprias da escola, localizada na cidade de Saitama, região metropolitana de Tóquio. De acordo com o relato do jovem, a cidade estava congestionada e sem comunicação, os trens não funcionavam e o aeroporto de Tóquio estava inundado e se reorganizando para manter os vôos. Além disso, duas vezes por dia ocorriam blecautes propositais, com o intuito de fazer o racionamento de energia. O governo japonês distribui água engarrafada para a população, pois as águas canalizadas já se encontram contaminadas com a radiação. 

"Só vim embora por conta da ameaça de radiação. Na quarta-feira que parti, a radiação da usina de Fukushima já tinha alcançado 100 km de diâmetro. Se não fosse a radiação nem a insistência de meus pais para voltar ao Brasil, teria ficado e me voluntariado como tradutor para ajudar quem precisasse", revelou. O regresso ao Brasil estava programado para o próximo dia 6 de abril, data em que o curso terminaria. Porém, o acontecimento adiou o encerramento e a escola conseguiu adiantar as passagens dos estudantes para retornarem aos seus países de origem. 

A mãe de Paulo estava na sala de sua residênciaquando viu pela televisão os estragos do terremoto. "Fiquei muito preocupada. Comecei a chorar, mas corremos para a internet e vimos o recado dele. Ele dizia que estava bem e contava detalhes do terremoto. Ficamos mais tranquilos, mas queríamos ele aqui, de volta com a família", disse ela. O pai não teve uma reação diferente e acredita que o filho só está bem por proteção divina. "É uma sensação de impotência muito grande. Você não pode fazer nada a não ser esperar. Mas confiamos em Deus e mesmo com as dificuldades de embarque que são mencionadas nos noticiários, ele conseguiu voltar e bem", disse, emocionado.

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